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E agora esquerda?

René Magritte, Décalcomanie, 1966, © Photothèque R. Magritte / Banque d'Images, Adagp, Paris, 2016
René Magritte, Décalcomanie, 1966, © Photothèque R. Magritte / Banque d'Images, Adagp, Paris, 2016
fidel
” Alô esquerda, tô de olho em vocês!” – disse Fidel

Por Eduardo Graf

Um fascismo generalizado toma conta da Europa, do Oriente Médio, do Brasil, dos EUA… e a esquerda em crise não sabe como agir. Governos conservadores, reacionários e corruptos fazem a festa diante de uma confusão generalizada onde nossos intelectuais mais descolados debatem incessantemente sem ver uma luz no fim do túnel. E agora José?

O facebook é um instrumento de pesquisa que nos ajuda a avaliar o grau de esquizofrenia que reina nos dias de hoje. Sou fã de pensadores, de artistas, de gente cool, de ecologistas e por isso tenho muitos amigos de esquerda em minha rede social. Porem descendo de uma familia de capitalistas, que tinham a maior fabrica de linho da Alemanha, fui criado no Leblon e trabalho com clientes da zona sul carioca, reduto de neo liberais e afins que também compõem a grade de amigos de meu facebook.

O engraçado desta situação é ver como ambas as partes ou lados, se utilizam dos mesmos acontecimentos para justificar as suas prerrogativas e seus dogmas. Podemos citar por exemplo a vitória de Trump nos EUA ou a morte de Fidel neste final de semana. Demônio para uns, deus para outros, numa matemática onde fica claro o despreparo e a ignorância de ambas as partes para dar conta do daquilo que um grande pensador do seculo passado chamava de Diagrama de uma determinada época. O incrível é ver que até mesmo Foucault, esse mesmo pensador, é usado sem cerimonia tanto por Marxistas como por Liberais, que se esquecem que antes de ser de direita ou de esquerda, Foucault era um Nietzschiano, ou seja, não estava em nenhum dos dois lados.

Em 1985 entrei em contato com dois pensadores modernos que trouxeram para a humanidade uma nova maneira de pensar e que com seus livros, entrevistas e aulas, nos abrem novos caminhos e uma alegria contagiante, numa guerra onde o Capitalismo, a psicanalise as religiões e o marxismo em geral saem perdendo para dar lugar a uma valorização da vida e da potencia que existe em cada um de nós, são eles Gilles Deleuze e Felix Guattari.

Para eles a saída não é pela esquerda, da qual são simpatizantes, (ambos foram militantes e tiveram grande envolvimento, principalmente Guattari que alem de psicanalista participava ativamente dos movimentos de esquerda); e muito menos pela direita, sendo que seu trabalho  principal (eles escreviam em parceria) é uma critica fulminante a psicanalise e ao capitalismo.

 

René Magritte, Décalcomanie, 1966, © Photothèque R. Magritte / Banque d'Images, Adagp, Paris, 2016
René Magritte, Décalcomanie, 1966, © Photothèque R. Magritte / Banque d’Images, Adagp, Paris, 2016

As instituições de ensino, nossos doutores e Professores, não são muito chegados a essa dupla, que até mesmo para estes, ou principalmente para estes, é de difícil compreensão. Entender Deleuze – Guattari é muito mais uma questão moral do que de velocidade lógica. Nossos saberes e conhecimentos são na maioria das vezes empecilhos para o entendimento de uma obra que coloca a filosofia novamente em seu lugar, como produtora de conceitos, e pasmem, as maiores resistências a esse trabalho vem justamente do pessoal de humanas, que amparados por suas instituições e dogmas, entupidos de uma coisa chamada Significante e de simbolismos, não dão conta de algo que se passa também pela intuição, ou aquilo que Spinosa chamava: terceiro gênero do conhecimento.

O Rio de Janeiro e São Paulo são cidades que tiveram o privilégio de receber Michel Foucault, e Felix Guattari, que também estiveram em Salvador e outras cidades. No Rio tivemos a sorte de ter um dos pioneiros no ensino da obra de Deleuze, meu professor em 1995 Claudio Ulpiano ministrava aulas na UFF e na Uerj, alem de diversos grupos de estudo dos quais participei em alguns. Luiz Izidoro é outro que durante décadas deu aulas em São Paulo, no Rio e Salvador, sendo inclusive convidado pelo cosmólogo Mario Novello para dar aulas no CBPF. Meu amigo pessoal, Izidoro já esteve diversas vezes em Búzios, onde passamos noites memoráveis estudando a obra destes verdadeiros revolucionários, pois não querem a revolução, eles vivem de forma revolucionaria!!!

Para entender estes pensadores é necessário um trabalho progressivo, para que os conceitos façam sentido tem que se ter acesso a determinada literatura, cinematografia, ter uma compreensão real do que seja a arte e estudar uma linha de pensadores que inspiraram e também foram considerados malditos em suas épocas: Pré socráticos, Espinosa, Nietzsche…

Vamos um pouco com eles para ter um gosto do que nos espera se entrarmos em contato com este pensamento, que não deve ser confundido com o que chamam de pós moderno:

“Sim, como muitos outros nós anunciamos o desenvolvimento de um fascismo generalizado. Ainda não se viu nada, não ha razão alguma para que o fascismo não se desenvolva. Melhor dizendo: se não se montar uma maquina revolucionária capaz de se fazer cargo do desejo e dos fenômenos de desejo, o desejo continuara sendo manipulado pelas forças de opressão e repressão, ameaçando, mesmo por dentro, as maquinas revolucionárias. O que distinguimos são duas espécies de investimento do campo social, os investimentos pré-conscientes de interesse e os investimentos inconscientes de desejo. Os investimentos de interesse podem ser realmente revolucionários , e, no entanto, podem deixar subsistir investimentos inconscientes de desejo não revolucionários, ou até fascistas. Num certo sentido, o que propomos como esquizoanálise teria por ponto de aplicação ideal os grupos, e grupos militantes: pois é ai que se dispõe mais imediatamente de um material extra-familiar, e que aparece o exercício por vezes contraditório dos investimentos. A esquizoanálise é uma analise miltante, libidinal-econômica, libidinal-politica.”

Felix Guattari, 1972

 

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