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Cidades

Ex-aluna denuncia maestro de Cabo frio por abuso sexual

Em janeiro deste ano, o Charitas de Cabo Frio receberia um evento do Angelo Budega, maestro que comandou por anos um projeto de música na cidade. O evento, porém, nunca aconteceu. A Secretaria de Cultura, em comunicado oficial, alegou avaria no local por conta da forte chuva que afetou o município dias antes. Algumas pessoas, no entanto, acreditam que o “O Brasileirinho” não deveria sequer ser considerado. Isso porque, em 2010, Budega foi acusado de abusar sexualmente de uma menina de 10 anos de idade, de acordo com o inquérito policial 812/11 e R.O. 07098/2010.

Ao Prensa de Babel, uma pessoa com conhecimento sobre o caso, que pediu para não ser identificada, relatou o ocorrido, como fez anteriormente. Segundo a denúncia, Budega foi até a casa onde a menina morava com a mãe para levá-la para aprender uma música nova e os dois desapareceram por três horas. Quando voltaram, a avó da criança notou que ela desceu do carro transtornada,  trêmula e com as mãos cruzadas sobre o peito. A tia também estava presente e, percebendo o estado, perguntou o que tinha acontecido. A menina, então, relatou o abuso, que afirmou ter acontecido onde hoje fica o Shopping Park Lagos, nas Palmeiras. Na época, o local era uma área isolada.

Em sua rede social, a Manuela fez duras críticas. Devido ao post, o relato da Kéren veio a tona.

Em uma postagem denunciando os casos de pedofilia envolvendo Budega numa rede social, outra jovem deixou um comentário afirmando também ter sido abusada pelo maestro quando era criança. A reportagem do Prensa entrou em contato com Kéren -Hapuk Andrav e recebeu seu relato.

Kéren conta que conheceu Budega aos 9 anos, quando o músico foi à escola onde ela estudava convidar os alunos a participar do projeto social Apanhei-te Cavaquinho. Apaixonada por música, a jovem passou a frequentar as aulas de cavaquinho em outra escola e, depois, na casa de Budega, quando passou para o núcleo avançado e começou a cantar e ensaiar para apresentações públicas. Os ensaios, ela conta, aconteciam duas vezes por semana; ela era a única menina do grupo e afirma ter sofrido coação e agressões físicas por parte dos meninos da turma.

Em um comentário nas redes sociais, Kéren chegou a contar sobre o ocorrido.

 

“No final das aulas, o Budega deixava os alunos em casa de carro e ele me deixava por último. Eu gostava de aprender e tocar, e ele me tratava com carinho. Mas começaram a acontecer algumas coisas estranhas, ele tentou me beijar na boca, no caso pedia um beijo no rosto e virava para me beijar à força na boca. Ele nunca conseguiu porque eu me afastava”, relata Kéren.

As investidas do músico aumentaram. A jovem conta que ele passava a mão na perna dela até tocá-la nos genitais. “Eu tirava a mão dele e pedia para ele me levar para casa. Era tudo tão estranho, eu não conseguia entender direito”.

Novos relatos foram postados no post da Manuela.

Segundo ela, Budega não era agressivo e sempre agia com naturalidade quando tentava tocá-la, o que lhe causava confusão. “Eu ficava travada, não conseguia reagir e acabava agindo naturalmente também, apesar de estar morrendo de medo”.

Kéren afirma que, certa vez, ele a levou para sua casa vazia e pediu que ela fosse para o quarto com ele, afirmando que estava com dor de cabeça e precisava descansar antes do ensaio. O maestro apagou as luzes e pediu que a menina fizesse carinho nele. Em desespero, ela disse que não queria ensaiar e pediu que ele a levasse para casa. Budega, sempre agindo naturalmente, acatou o pedido. Os abusos, porém, pioraram, de acordo com a jovem.

“O pior dia foi quando ele me levou para um lugar estranho e falou que ia me deixar dirigir. Ele me forçou a sentar no colo dele. Mais uma vez, eu pedi para ele me levar para casa, morrendo de medo, e quando eu percebi, ele estava com o pênis para fora. Eu entrei em desespero, mas sempre tive que ficar contida e não demonstrar medo até ele me deixar em casa, porque eu tinha muito medo do que ele pudesse fazer. Ele continuava a ser ‘bonzinho’ e a agir como se nada estivesse acontecendo”.

O trauma do último abuso foi tão grande que Kéren, muito assustada e abalada, contou para a avó no dia seguinte o que tinha acontecido. “Minha avó não sabia que eu ficava só com ele, ela não sabia o que fazer e ela me proibiu de fazer aulas com ele. Então nunca mais toquei no assunto com ninguém”.

Três anos depois, em 2010, então com 13 anos, a jovem soube da notícia da menina que acusava Budega de abuso sexual após o músico ter desaparecido com ela por três horas. “Eu fiquei muito assustada, mas não tinha como falar com ninguém sobre, aquilo era algo tão estranho e tenebroso que eu guardava bem escondido dentro de mim”.

Aos 19 anos, ela conta que acabou reencontrando Budega e se reconectou com ele, chegando a cantar ao seu lado em alguns eventos em Cabo Frio. “Não sei o que havia na minha cabeça para aceitá-lo de novo na minha vida e agora eu respeitava ele e o tinha como mestre e mentor”. Foi um questionamento da namorada de Kéren, ao descobrir que o músico era acusado de pedofilia, que a fez, finalmente, se abrir sobre os abusos que sofreu quando era criança. “Eu disse que ele havia feito o mesmo comigo. Ela ficou chocada e me perguntava o porquê de eu ainda falar com ele e cantar com ele. Eu não sabia responder, não entendia”, explica ela.

Novos relatos foram postados no post da Manuela.

Kéren relata que, durante um ano, por conta própria, passou por um processo de entendimento psicológico para trabalhar e cuidar da ferida que havia dentro dela. A jovem cortou relações com Budega, excluiu-o das suas redes sociais e passou a se esconder quando estava no mesmo ambiente que ele. Ela conta que jamais houve um enfrentamento direto. “Ele se faz de bonzinho, de guru espiritual. Ele acessa o universo infantil e faz as crianças confiarem nele. Ele fez isso comigo”.

Ela diz que resolveu comentar na postagem na rede social porque muitas pessoas não acreditam na acusação de pedofilia contra Budega. “Eu tinha que fazer algo, para a não perpetuação da cultura do estupro, da pedofilia. Eu não tive voz por anos, uma criança não consegue falar abertamente sobre as questões. Elas precisam ser protegidas, amparadas, orientadas. Somente 12 anos [depois] estou falando sobre isso e poderia ter evitado que aquela outra criança e outras sofressem o mesmo. Então sufoquei o medo que me sufocava e falei”.

A jovem afirma que ainda está em processo de assimilação e que trabalha para não se sentir culpada. “Não há motivos para culpa. A culpa é somente do abusador. Não se pode jogar para debaixo do tapete, passar pano. Ele não pode voltar a ter projetos sociais com crianças carentes para ele abusar”.

O Prensa entrou em contato com o Budega e seus advogados para ouvir a sua versão dos fatos. Em resposta, os seus representantes alegaram que “estão sendo analisadas as providências cabíveis, se for o caso.” Segundo eles, “a principal questão refere-se ao questionamento do porque o Sr Budega se encontra participando, em poucos dias, de três eventos significativos na cidade. (…) Na verdade o que se deseja, é se promover tentando destruir a imagem e reputação às custas da honra alheia. Ocorre que se trata de questões que envolvem a privacidade das pessoas, no caso se tratar de criança ou adolescente, envolve matéria com sigilo judicial”, disse.

Em nota, a Secretaria de Cultura de Cabo Frio, alega que “em primeiro lugar repudia pedofilia e, em casos de suspeita, acredita que o foco seja a investigação com os órgãos competentes para que tudo seja comprovado ou não e acredita que a sororidade é o melhor caminho para se chegar à verdade dos fatos”.

De acordo com a Secretária de Cultura, Meri Damaceno, o cancelamento do evento do último dia 27 de janeiro com o Ângelo Budega foi, realmente, por conta de avarias no Charitas. “A respeito da nota de cancelamento do evento do último dia 27 de janeiro de 2019, no Charitas, com o músico Ângelo Budega, a mesma é completamente verídica. O espaço está precisando de reformas estruturais importantes e com a chuva do dia 25, tivemos problemas como a maioria da população cabofriense em suas casas. Estamos até hoje secando documentos que quase perdemos e estudando como evitar o mesmo problema nas próximas chuvas”, afirmou.

Sobre as denúncias, Meri Damaceno, diz que “não fui cega ao que acontecia na internet por causa da última denúncia feita ao músico. Em respeito à responsável pela nova acusação e à justiça que esperamos apurar o caso, decidimos que o evento seguirá cancelado até que tudo seja esclarecido. Fazemos parte de uma gestão coletiva, então todos nós da secretaria debatemos sobre o caso para que pudéssemos responder às perguntas que estão sendo feitas para nós desde segunda-feira. Nosso papel é aguardar que tudo seja apurado e que a justiça seja feita”, informou Meri Damaceno.

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