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Comentário sobre Leonard Cohen

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Tempos atrás descobri um grande – misterioso – cantor. Seu nome? Leonard Cohen. A última música emblemática de Cohen foi “You want it darker”, e há algo nessa música muito maior do que o título parece nos dizer. Hineni, para explicá-los!
“Se você é o dealer, eu estou fora do jogo
If you are the dealer, I’m out of the game
Se você é o curador, isso significa que estou quebrado e coxo
If you are the healer, it means I’m broken and lame
Se a tua é a glória então a minha deve ser a vergonha
If thine is the glory then mine must be the shame
Você quer mais escuro
You want it darker
Nós matamos a chama
We kill the flame
Magnificado, santificado, seja teu santo nome
Magnified, sanctified, be thy holy name
Vilanizado, crucificado, no quadro humano
Vilified, crucified, in the human frame
Um milhão de velas acesas pela ajuda que nunca chegou
A million candles burning for the help that never came
Você quer mais escuro
You want it darker
Hineni, hineni
Hineni, hineni
Estou pronto, meu senhor
I’m ready, my lord”
Com um olhar um pouco atento conseguimos identificar que Cohen está fazendo referências à Deus. Mas há um porém nessa referência: que Deus? O judeu e o cristão.
Vamos aos pormenores.
“Se você é o dealer, eu estou fora do jogo
Se você é o curandeiro, isso significa que estou quebrado e coxo
Se a tua é a glória, então minha deve ser a vergonha”
Aqui, Robert, diz que cansou de jogar com Deus, de viver com ele. Em outras palavras, Robert não o quer mais; e não é só isso. Robert está dizendo que Deus o abandonou, tanto é que a frase mais icônica de Cohen foi “estou pronto para morrer.” Ele não quer jogar com Deus, está se opondo à barganha que as Igrejas propõem ao falar de Deus. O fato de se colocar como esquecido está na referência à Deus ser uma espécie de curandeiro, e, por isso, Cohen está machucado. E claro, Deus, em comparação aos humanos, é glorificado; portanto, se Dele é a glória, para nós, humanos, sobra a vergonha.
“Você quer mais escuro
Nós matamos a chama”
Em outras palavras, seja feita vossa vontade, ó, meu senhor, Hineni!
“Magnificado, santificado, seja teu santo nome
Vilanizado, crucificado, no quadro humano”
“Um milhão de velas acesas pela ajuda que nunca chegou”, este aqui ficará para o final.
Aqui, nosso cantor propõe duas reflexões que viram uma.
“Magnificado, santificado, seja teu santo nome”
O desejo dos fiéis é que Ele seja magnífico, belo, santo, perfeito. Então, que o seja! Mas:
“Vilanizado, crucificado,” (és) “no quadro humano”
Os fiéis matam e odeiam em nome de Deus, independente da religião, o ódio é cultivado e espalhado em nome do santo nome.
“Você quer mais escuro
Hineni, hineni
Hineni, hineni
Estou pronto, meu senhor”
Hineni é uma palavra Maori que quer dizer “não”. Mas não é só um palavra maori. Hineni é uma expressão hebraica que, traduzido ao pé da letra, significa: Eis-me aqui. Hineni, pode ser também “conte comigo”, “ao seu dispor”, … Novamente, Rohen coloca a humanidade no lugar de estar presente para Deus. Vis-à-vis, o verso quer dizer: você quer mais escuro, então, eis-me aqui! Estou pronto, meu senhor!. Essa é uma referência sobre Abraão, pois é Abraão que, ao dizer Hineni, faz o que Deus manda; porque não se pode voltar atrás após hineni – pelo visto, é tradicional.
“Há um amante na história
There’s a lover in the story
Mas a história continua a mesma
But the story’s still the same
Há uma canção de ninar para sofrer
There’s a lullaby for suffering
E um paradoxo para culpar
And a paradox to blame
Mas está escrito nas escrituras
But it’s written in the scriptures
E não é uma reivindicação ociosa
And it’s not some idle claim”
Este é um trecho que não se pode separar, ele é, por si só, o pormenor que explorarei.
Para Rohen, “há um amante na história”, mas, diferente de todos os contos clássicos, o amante não muda nada e “a história continua a mesma”. O que podemos entender? Decidi ir mais a fundo e supus que o eu-lirico que Rohen encorpora é a humanidade, o que muda totalmente os primeiros versos! Estamos cansados de barganhar com Deus, estamos nos sentindo abandonados e envergonhados. Com isso, o verso do amante faz sentindo: há amantes na história, mas a história continua a mesma. E, para continuar, “há uma canção de ninar para sofrer” e “um paradoxo para culpar”, qual seriam esses? Levando em conta os versos anteriores, a canção de ninar para sofrer seria os pesadelos que a humanidade tenta esquecer ao criar frivolidades para si, e, o paradoxo, seria as guerras e mortes que, sempre que esquecidos, voltam para nos assombrar. Para Rohen isso “não é uma reivindicação ociosa”, pois “está escrito nas escrituras”. Portanto, já aconteceu. Ele não está reivindicando algo que pode acontecer, mas, sim, que já aconteceu.
“Eles estão alinhando os prisioneiros
They’re lining up the prisoners
E os guardas estão mirando
And the guards are taking aim
Eu lutei com alguns demônios
I struggled with some demons
Eles eram de classe média e mansos
They were middle class and tame
Eu não sabia que tinha permissão para matar e mutilar
I didn’t know I had permission to murder and to maim”
Desta vez, precisaremos dos pormenores! Hineni!
“Eles estão alinhando os prisioneiros”
A pergunta que fica ao analisarmos este trecho é: quem são eles?. Rohen não deixa claro, mas, por estarmos falando de Deus, teremos de imaginar que são seus representantes na Terra ou, melhor dizendo, os que dizem realizar seu desejo. Como posso dizer tamanho absurdo?! Veja:
“E os guardas estão mirando”
Os representantes [de Deus] estão alinhando os prisioneiros e os guardas estão preparando-se para matá-los mirando-os com seja lá o que for. Neste momento, perceba que Rohen nos coloca no ponto de vista dos prisioneiros. Logo depois, ele troca para os guardas e missionários.
“Eu lutei com alguns demônios
Eles eram de classe média e manso
Eu não sabia que tinha permissão para matar e mutilar”
Em muitos momentos vemos que os humanos são os demônios, os maiores pecadores e difamadores que desrespeitam os dogmas religiosos e cometem pecados em nome de Deus. Ao dizer que lutou com demônios, Rohen nos coloca na visão dos assassinos que matam em nome de Deus. Depois, ele nos diz quem estamos matando: os mansos de classe média. Os inocentes – ignorantes pecadores –, mas que, diante dos olhos dos missionários, são os demônios e devem morrer. Ao fazer isso, os missionários assinam seu tratado de morte e encontram a desculpa para dar ao Pai de Todos:
“Eu não sabia que tinha permissão para matar e mutilar”
Eles não sabiam se tinham permissão para matar, então, mataram. Utilizam-se da inocência dos que mataram para tentar se redimir; buscam um perdão por meio da inocência – ignorância – mansa que eles condenaram em vida.
“Magnificado, santificado, seja teu santo nome
Magnified, sanctified, be thy holy name
Vilified, crucificado, no quadro humano
Vilified, crucified, in the human frame
Um milhão de velas acesas pelo amor que nunca veio
A million candles burning for the love that never came
Você quer mais escuro
You want it darker
Nós matamos a chama
We kill the flame”
Diego! Ele está repetindo tudo, ele não sabe compôr!
Acalme-se, devido ao contexto, isso tem um novo significado.
“Magnificado, santificado, seja teu santo nome
Vilanizado, crucificado, no quadro humano
Um milhão de velas acesas pelo amor que nunca veio”
Rohen está acusando Deus, independe de qual Deus for, Ele será acusado. Mudemos um pouco os versos para entender o porquê de Rohen estar colocando Deus no banco dos réus.
“Magnificado, santificado, seja teu santo nome” (!) “Vilanizado, crucificado, no quadro humano”. A culpa é sua! Por que não nos controla?! (Há) “Um milhão de velas acesas pelo” (seu) “amor que nunca veio” (!) Você queria mais escuro e “Nós matamos a chama” (!)
Deus, ó pai, fizemos tudo o que  querias! Matamos por ti, Pai! Então por que não manifesta teu glorioso poder sobre nós? Por que não nos salva de nós mesmos? Estamos guerreando em nome do senhor, esperando-o voltar! Volte! Salve-nos!
“Se você é o dealer, deixe-me sair do jogo
Se você é o curador, eu estou quebrado e coxo
Se a tua é a glória, minha deve ser a vergonha”
E aqui, Rohen, assume Deus e diz para humanidade que as atitudes dela o envergonharam, machucaram e que, se nós estamos tentando barganhar perdão divino por aquilo que estamos fazendo, então ele [Deus] quer sair do jogo.
“Você [homem] quer mais escuro” e eu [Deus] não.
E, então, ao apagar Deus de nossas vidas o paradoxo se inicia novamente. Pedimos-lhe que volte. E convocamos o Hineni, a tradição que não pode ser negada ou ter arrependimento ao convocar.
“Hineni, hineni
Hineni, hineni
Hineni, hineni
Hineni, hineni
Estou pronto, meu senhor
I’m ready, my lord
Hineni
Hineni
Hineni, hineni
Hineni, hineni”
Eis-me aqui, senhor! Salve-me! Perdoe-me!
E o jogo começa denovo…

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