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Cidades

Leiam a Conceição

Observei com ressalva a campanha para a ocupação da Academia Brasileira de Letras pela Conceição Evaristo, cadeira vaga após a morte do cineasta Nelson Pereira dos Santos. A ressalva está na sanha do argumento de ocupação de espaços, como se todos os espaços fossem realmente válidos e relevantes pra nós, enquanto povo.

Vamos lá, a Academia Brasileira de Letras foi fundada basicamente pra escritores se encontrarem e jogar conversa fora. Afirmação que depois foi reformulada, porque seria até feio isso, então se tornou um lugar com o objetivo de preservar a unidade literária brasileira.

Com o critério básico de se escrever um livro para se estar dentro, ela se mostra muito além disso, até porque, como qualquer instituição desse porte, no Brasil, estaria fadada a um clube elitista e hierárquico por si só. Pensem, no século XIX, quem realmente tinha acesso ao letramento, ainda mais, quem se tornava escritor, por mais que sua origem seja escrava ou pobre?

Entende, por mais que o Machado de Assis seja comprovadamente preto, ele teve acesso a uma elite econômica e intelectual, logo, a inspiração à Academia Francesa de Letras não foi mero destaque ilustrativo. “A Academia Brasileira de Letras, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua nacional.” Tá bom ou quer mais?

Pois bem, os postulados pertencentes a uma elite econômica e intelectual brasileira, logo, com influências em vários setores, inclusive o da educação, nos fez estudar ou, pelo menos, dar vazão a muitas das obras, escritas por eles, fazendo parte do cânone de estudos literários e do currículo base do ensino básico.

Poxa, a arquitetura produtiva do Brasil sempre foi carregada de imposições e decisões arbitrárias. Sem questionar um José de Alencar, que considerava o bruxo do Cosme Velho um caucasiano grego, Castro Alves, Guimarães Rosa ou Manoel Bandeira, pessoas que já sentaram nas cadeiras da ABL, mas além disso, o que mais a Academia Brasileira de Letras representa ou acrescenta no imaginário brasileiro?

A proposta de mostrar uma instituição elitista, patriarcal e sem representatividade da diversidade vale, mas vale até a página 2, porque quem sabe, sabe, sempre soube e não é hoje que ela vai mudar. O que deveria mudar, de fato, é a importância que damos para instituições como essa. Por que essa legitimidade toda?

Conceição Evaristo tem 11 livros publicados, ela é doutora em literatura comparada, é matéria obrigatória no vestibular da UFMG, por exemplo, sem contar que ela é nossa, acessível, dialógica, enfim, já ultrapassou as barreiras da mortalidade, faz tempo.

Instituições elitistas, patriarcais e quiçá racistas nem devem ser aspiradas por pessoas como Conceição Evaristo, pelo amor. A grande campanha, válida e necessária, é que leiamos a obra dela com amor e afinco. Afinal, saber que José Sarney e Marcos Maciel ocupam assentos na célebre Academia e querer a dona Conceição no mesmo espaço é um acinte àquilo que consideramos anti racista.

Valorizar artistas pretos, valorizar nossa diversidade tem menos haver do que ocupar espaços caducos, do que outra coisa. Lima Barreto, depois de alguns preterimentos a cadeira da ABL, declarou: “Eu sou escritor e, seja grande ou pequeno, tenho direito a pleitear as recompensas que o Brasil dá aos que se distinguem na sua literatura”

A recompensa que temos que dar a Conceição é lê-la, e depois de lê-la, presentear alguém com um livro dela. Só assim para se destituir o cânone brasileiro mesmo. Larga pra lá a Academia…


 

Fábio Emecê é professor, rapper e ativista. escreve sobre música aqui no Prensa

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