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Cidades

A lenda do surfista empalado de Geribá #1

Um conto de Victor Viana que fará parte do livro ‘Contos, crônicas e outros rabiscos da Babel, um estado fluminense’
Suzy, o surfista empalado de Geribá, no traço de Davi Gautto
Suzy, o surfista empalado de Geribá, no traço de Davi Gautto

Nos idos de 90 havia um surfista chamado Suzy que era apaixonado pelas ondas da praia de Geribá, seu quintal. Ele passava horas e horas no mar, buscando a perfeição em cada manobra e deslizando sobre as águas com destreza. De costas para o avanço imobiliário voraz que tomava seu paraíso, Suzy era conhecido como um dos melhores surfistas da região e sua prancha era sua noiva, companheira inseparável.

Certo dia, enquanto Suzy surfava uma onda gigantesca, ele acabou tomando um caixote. A onda o jogou com força na praia e a prancha, que estava presa ao seu corpo com a cordinha, se soltou e voou em sua direção. Infelizmente, a ponta afiada da prancha acertou a barriga de Suzy, atravessando seu corpo e causando uma lesão fatal. Suzy morreu ali mesmo, empalado na praia que tanto amava. O mar de água à sua frente e o de casas tomando a orla nas suas costas. O sangue derramado na água era tanto que atraiu diversos tubarões, que estavam próximos da costa devido ao desiquilíbrio ambiental causado pelo boom da pesca irregular naqueles anos, e muitos banhistas foram mutilados. Nos jornais as manchetes eram: Verão do terror em Búzios – Surfista empalado pelo mar jorra sangue e tubarões devoram banhistas.

Muitos contaram, na época, que antes de morrer, Suzy ainda conseguiu se levantar, mesmo com a prancha atravessada no corpo. O socorro médico não pode chegar a tempo; ruas sem saída, imóveis privados invadindo espaços públicos, e mais gente que a pequena península comportava “Não venham a Búzios”, disseram na TV. Tudo isso deu um nó no trânsito, impedindo o acesso à praia.  Alguns banhistas teriam tentado ajudar. Mas sem controle, como uma galinha que tem o pescoço cortado e continua correndo mesmo sem cabeça, ele se virava para todos os lados, derrubando quem se aproximava com as extremidades da prancha.

O incidente foi trágico e chocou a comunidade local, que perdeu um grande surfista e um grande amigo, morador daquelas terras desde bem jovem. Mas que, na verdade, antes do incidente era tido pelos locais como mais um maconheiro vindo de fora, mesmo brasileiro era tratado como um gringo. Mas morto todo mundo presta, uma regra não escrita da moral cristã. Os anos passaram e a lenda se perpetuou, sendo contada e recontada pelos moradores da região. Alguns acreditam que a prancha de Suzy foi retirada do seu corpo e enterrada em um local sagrado, enquanto outros afirmam que a partir desse dia, a praia de Geribá ficou marcada pela presença do espírito de Suzy, que assombra aquele lugar. A prancha então ainda estaria cravada em seu corpo, que continua a percorrer a praia e a dizer o que teria sido suas últimas palavras:  – Carai, véi, o point tá ‘crowdeado’.

E por mais que as igrejas tenham ao longo dos anos berrado orações e afirmado que a praia estava livre de intervenções vindas do além, até um mega show religioso foi feito na faixa de areia, todos têm certeza: a presença de Suzy é sentida até hoje na praia. As pessoas que caem despretensiosamente na praia de Geribá acreditam, até hoje, que são derrubadas pela prancha de Suzy, cravada em seu corpo, que continua a percorrer a praia em busca de novas vítimas, já que foi dada mais atenção aos mutilados pelos tubarões que a ele, que viveu e morreu fazendo o que mais amava no local que tanto amava.

Quem cai sempre conta que, muitas vezes pela primeira vez, podem observar do chão o desastre da ocupação de casas, pousadas e clubes nas areias lavadas pelo sangue de Suzy. – Carai, véi, o point da “crowdeado”.

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Victor Viana – autor de A Criança debaixo do guarda-chuva
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