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Cidades

Uma pedra rolante em Búzios

Arquivo pessoal: Alexia Dechamps

A pesca em Búzios era tão abundante, que os antigos inventaram o mapa. Pendurado numa birosca, ali estavam as anotações que tratavam do rodízio da pesca, onde grupos de pescadores se revezavam nas praias. Os grupos se formavam em torno das canoas existentes.  Se uma canoa pescasse na praia Azeda hoje, amanhã ia pescar em João Fernandes e quem estava em João Fernandes passava para João Fernandinho, e assim por diante. Sete praias faziam parte do mapa.  Praia do Canto, Armação, Pedra Lisa, Ossos, Azeda, João Fernandes e João Fernandinho. Nessa época, as canoas eram de um tronco só. Esculpidas num único tronco de madeira.

O ano era 1976.

O local conhecido como casa de som, era o que existia no centro de Búzios. Na verdade não havia nada no centro. Havia o barracão da casa de som, onde era possível beber cachaça, fumar um baseado e tocar um violão.

– Eu e os meninos que pescavam comigo na canoa do meu pai (Mestre Zeca), a gente ficava bebendo na casa de som e quando dava a madrugada, a gente ia direto pescar – conta Dica.

Nessa época andava por aí um gringo.

Arquivo pessoal: Alexia Dechamps

Volta e meia o gringo surgia atrás dos pescadores, querendo curtir um pouco, beber uma cachaça com companhia, e já era figura manjada no pedaço. Ninguém conseguia conversar com ele, mas todos se entendiam através de sinais. 

Dica conta que não se sabia de onde ele era, mas o gringo andava atrás deles o tempo todo.

 – Eu tinha trocado um bonito pelo violão velho de um hippie. Era um violão com apenas três cordas e todo desenhado. A gente ficava enganando que tocava, e esse cara sempre com a gente. Um dia numa fogueirinha na Azeda, a gente passou o violão pra ele. Pô, o violão só tinha três cordas e o cara detonou na música. A gente não conhecia a música, era em inglês, mas o cara arrebentou – lembra.

Numa bela noite de céu aberto e muitas estrelas, a pesca tava grande. Mestre Zeca estava com a canoa na Armação, mas a canoa de João Fernandinho ofereceu um lanço de rede para o grupo do companheiro, tamanha era a fartura de cardumes naquela praia. E lá foi a turma de Dica.

– Passando pelo centro indo pra João Fernandinho, fizemos nossa parada certa na casa de som. Na saída o gringo viu a gente e veio direto na nossa direção. Os meninos começaram logo a murmurar, lá vem aquele gringo atrás da gente outra vez. Aí eu falava, deixa o cara, ele quer ir lá pescar com a gente, não conhece nada, deixa o cara.

Jornal Reprodução

E o gringo seguiu junto.

O lanço foi dado e veio muito peixe. O grupo cercou um cardume enorme. Recado enviado a Mestre Zeca avisava da abundância e pedia para chamar o carro da peixaria. A essa hora a fome já era grande. Madrugada ia alta e a turma da pesca tratou de separar um bonito grande para assar.

– Saiu missão pra todo mundo. Um tirava lenha no mato, outro limpava o peixe, outro tirava alfavaca, outro ia pegar sal nas pedras… Maré baixa, lua de quarto, faz sal nas pedras. Eu fui tirar alfavaca no mato e limão. Peguei os dois. Quem temperou o peixe pegou tudo junto e colocou. A gente meio atordoado, meio bêbado…tudo escuro ainda.

Peixe assado, educação manda servir primeiro as visitas. O gringo recebe então seu pedaço de peixe e come. Mas quase que imediatamente após engolir, desmaia na areia, apaga completamente.

– Morto! Ele morreu, gritou Lili. A gente temperou o peixe com urtiga! Não era alfavaca, era urtiga! Metade correu para o mato apavorado. Nessa hora vinha descendo o morro a pescadora Mandinha, mãe de Samuca do pandeiro. Vendo nosso desespero, mostrei a urtiga e ela me deu um bocado de vinagre. Colocamos na boca do gringo e ele reviveu! Vomitou, tossiu, mas não morreu!

Maria Fernanda Quintela – Fernandinha, é jornalista e moradora de Búzios, há muitos anos pela Rasa. 

No dia seguinte teve até festinha com fogueira na praia para comemorar “o cara vivo”. E como de costume, a pesca após a noitada de diversão. Pois o grupo estava tranquilamente pescando, o sol já iluminava a praia, quando avista umas pessoas no alto do morro, descendo com máquinas fotográficas e mais uma monte de aparelhos e coisas.

 

– Nós pensamos, é a polícia que vem aí. Vem nos prender porque quase matamos o gringo. Aí entramos no mato, passamos o dia todo, todo mundo escondido no mato.

Mas não era a polícia. Era uma equipe de TV que esperou a volta dos pescadores quase o dia todo. Queriam uma entrevista. O tal gringo era o Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones, e já tinha ido embora de Búzios…

Jornal Reprodução

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