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Cidades

Um prefeito por quatro anos

Observando a história do centro dos fatos

Os intervalos eram pequenos. A cena foi repetida diversas vezes ao longo do dia, e nos seguintes. A porta aberta, as caras projetadas para dentro, e a pergunta: “Quem é o prefeito hoje?”. A frase que soa estranha, parecia normal a todos que estavam na recepção da Prefeitura de Búzios. Tão corriqueira, que cansados de ouvi-la, alguém sugeriu: “Melhor colocar um papel colado na porta com o nome do prefeito do dia”. A essa altura, já era a décima primeira vez que o chefe do Executivo era afastado, gritando o momento surreal máximo da história buziana, em que, pela décima primeira vez, tivemos que trocar o prefeito, todo o seu secretariado, incluindo coordenadores e gerentes, além dos funcionários de cerca de 400 cargos comissionados. E ainda com um agravante. A décima primeira troca aconteceu apenas três dias após a décima troca. Já imaginaram? Exonerações e nomeações e novamente exonerações e nomeações… e a cidade parada aguardando que os cargos sejam assumidos e a máquina volte a funcionar.

Equipe gráfica Prensa de Babel

Em meu trabalho de documentação da memória oral dos moradores de Búzios, costumo perguntar o que mais sentem falta atualmente, algo que tinham no passado e perderam com o tempo. Me faço a mesma pergunta e sei que minha resposta é igual à da maioria dos buzianos. Um prefeito por quatro anos!

Vítima de um recomeço recorrente, a Prefeitura de Búzios se reinventa a todo momento. Acompanhando de perto esse período único, trabalhando como jornalista da Coordenadoria de Comunicação Social, vi o quanto perdemos, cidade e cidadãos, nesse ir e vir de profissionais, que são trocados e destrocados, e novamente trocados, junto com estratégias e projetos e processos que são paralisados e reescritos constantemente, sob o risco de nunca serem realizados.

Numa dessas trocas, em que a mudança ocorreu num estalar de dedos, sem transição, em cinco minutos o gabinete inteiro desapareceu largando as portas abertas. No setor, ficamos apenas eu e dois estagiários. Ainda meio abobados com a saída repentina sem aviso, esbarramos com Cosme, nosso querido velho conhecido, no meio do corredor falando sem parar o que ninguém entendia. Me arrependo de não ter pedido para ele sentar na cadeira de prefeito. É uma imagem que vale mil protestos pela instabilidade e ironia de nossos dias.

As constantes mudanças do chefe do Executivo buziano gerou muitas brincadeiras onlines

Justiça. A Justiça deveria ser justa com todos nós. Não é aceitável que as liminares emitidas nas constantes trocas, contenham mensagens que alegam que a medida é para manter a ordem e garantir o bom funcionamento do município. O Judiciário demonstra não enxergar o que acontece na prática. É impossível manter essa ordem, com papéis que permitem a troca de comando de uma cidade. Isso é muito sério. Papéis que chegam como verdadeiros torpedos, desestabilizando cada tentativa de recomeço, tanto de um grupo, quanto de outro.

E humor não tem partido ou grupo

No último dia 12 (aniversário da cidade), a placa da porta teve que ser mudada novamente, pela 12a vez. Não sabemos quantas vezes mais trocaremos de prefeito, mas sabemos o tamanho da conta. É o contribuinte quem paga o custo de cada troca, o custo do eterno recomeço, o custo do atraso.

Ano que vem teremos eleições. É a nossa chance! Cabe a nós decidir se queremos ou não, um prefeito por quatro anos.


*Maria Fernanda Quintela é jornalista e moradora apaixonada por Búzios


Um pouco do sentimento popular sobre a instabilidade em Búzios

Leandro Andrade Miranda, estudante de Física do Instituto Federal Fluminense, recebe Ajuda de Custo Universitária desde 2017.
” Nunca fui muito ligado à política, mas essa mudança de governo constante acaba interferindo nos serviços prestados à população, e tem me afetado. Eu recebo Ajuda de Custo Universitária, e recebemos sempre com atraso. A Prefeitura planeja a data correta de pagar o benefício, aí troca o prefeito e troca tudo, já cheguei ao ponto de não saber com quem reclamar por não saber quem tinha ficado responsável pela Ajuda.
É uma surpresa receber no mês certinho, o normal é acumular mais ou menos 3 meses para receber. Tem gente que sem esse dinheiro fica sem ter o que comer na faculdade.
E nessa confusão de prefeitos, teve uma Ajuda que fiquei sem receber. Eu mandei extrato do banco pra verificarem, mas trocou o prefeito, tive que levar de novo, aí  mudou de novo, no total, levei umas 6 vezes os mesmos extratos. Resumindo, recebi mais de 1 ano depois.”

Gustavo Almeida, Chef de Cozinha
” A única coisa que precisamos é de um Prefeito que fique por 4 anos, faça seu mandato de forma transparente, e para a população. Ninguém aguenta mais essa instabilidade. A piada da cidade é descobrir quem é o Prefeito do dia, isso é surreal demais. Quem mora aqui quer ter certeza que os serviços vão estar funcionando, que vai ter marcação na Policlínica, que vai ter merenda. Queremos uma cidade com qualidade de vida para quem mora, não só para quem vem passear.” 

Gabriel Gialluisi, ambientalista

“Os prefeitos e vereadores vêm e vão, mas  a sociedade civil organizada permanece e é a força cooperativa com o poder público para que tenhamos gestões mais eficientes. Ante o confuso cenário administrativo do Município o FECAB voltou a se reunir. Venha para o FECAB, traga sua experiência e sua gana para alcançarmos a Cidade que queremos. União e cooperação da sociedade civil organizada é a solução.”

Alfa Gnone, artista plástica

“Me sinto em Saramandaia, uma cidade que não existe. Você ter de manhã um prefeito, à noite outro, esse clima de volta não volta… isso é uma sensação de insegurança, a gente não tem serviços completos, um acelera a obra, o outro diminui o ritmo, ou para tudo. A cidade fica em suspenso. A insegurança é o pior de tudo.”

Enaide Lacerda, psicóloga

“O sentimento é de abandono. Quem escolheu Búzios para viver constata o abandono, o descaso com a cidade. Não temos quatro anos de mandato, são períodos pingados, cortados, que deixam a cidade à revelia de todos os males. Nas pequenas coisas do cotidiano a gente vê isso. É o lixo que se acumula nas esquinas, é a falta de segurança… coisas básicas. É uma pena.”

Vanilda Venâncio, artista

“O que a gente viu nesse último ano foi uma coisa de louco. Eu nunca tinha visto isso em lugar nenhum do Brasil. Essa troca de cadeiras, onde a gente tem sempre que adivinhar quem está a frente da administração… desse modo as coisas não andam, as pessoas têm medo de investir, tudo fica muito difícil. Nem no trânsito conseguem dar jeito, lixo, luz, serviços públicos não existem nesse vai e vem.”

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