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Opinião: Sobre a tentativa de perpetuar a escravidão moderna no Brasil

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Estarrecida logo pela manhã, acompanhei o discurso xenófobico do “vereador” da cidade de Bento Gonçalves, considerada a capital brasileira do vinho, sobre trabalhadores baianos, a quem o edil se refere como ‘pessoal lá de cima’. Ao todo, 207 trabalhadores foram resgatados em situação análoga à escravidão na colheita de uva, empresa terceirizada oferecia mão de obra.

São tantos absurdos que pensei muito se escreveria sobre isso. Acredito que a experiência dos últimos quatro anos nos fizeram entender que dar palco a essa gente é perigoso, já que na maior parte das vezes, é isso que eles desejam. No entanto, me sufoca saber que tenho voz e espaço e não fazer uso deles.

O primeiro ponto que me toca mais profundo é ser gaúcha, e compartilhar com esses seres o mesmo berço, uma terra tão linda e cheia de gente boa, trabalhadora, inteligente e que ajuda o Brasil a mover suas engrenagens. O Sul do país não é feito dessa gente preconceituosa e xenofóbica. Somos maioria em respeito e acolhimento. Não é essa a face de um estado composto por muitos traços, grande parte de imigrantes, que muito se dedicaram ao país.

Dito isso, é preciso notar que existe um segmento que deseja, anseia, sonha com a manutenção da escravidão nas lavouras. Ela foi abolida e os negros ‘ganharam a liberdade’, os colonos chegaram e ocuparam os lugares dos escravizados. Com um pouco mais de direitos e algum pagamento, mas o lucro dos senhores foi preservado, além das indenizações. Quem veio da lavoura sabe que é trabalho duro, pesado, diário e pouquíssimo valorizado. Enquanto se labuta no sol, os donos das vinícolas degustam os melhores rótulos na Europa.

A fala do senhor que ocupa uma vaga na Câmara Municipal de Bento, me devolve direto pra esse momento. Os baianos vivendo de forma análoga à escravidão, dormindo em senzalas modernas, presos sem correntes visíveis, longe dos seus, denunciam. São protegidos pelas leis que regem esse país que tanto lutou para que a democracia prevalecesse. E o homem de sotaque forte, mistura do português com alemão e italiano, típico do interior do RS, diz:

“Vamos contratar os argentinos, quem está trabahando com eles não tem tido problemas”, rosnou o vereador.

A interpretação é bastante simples, segundo ele, 1Se não conseguimos escravizar os baianos, vamos em busca dos argentinos’. E é reforçado pela nota da empresa, a culpa é dos programas sociais de distribuição de renda, que empoderam e dão coragem às pessoas de negarem trabalhos análogos à escravidão já que estão minimamente protegidos pelo Estado. ‘Estão nos proibindo de escravizar, ora veja’ (contém ironia).

O quão sínicas são essas falas, quando há três grandes empresas por trás disso tudo, e sabemos como é o processo de eleição de vereadores, especialmente no interior dos estados. A atuação dessa gente nunca é em favor da população, mas do capital, que custeia as campanhas e mantém o sistema.

O poder de mudar tudo isso está em nossas mãos e vozes. A começar, por procurar saber a procedência dos produtos que consumimos e ao menor sinal dessas atitudes, deixar de consumir (Salton, Garibaldi e Aurora). Em seguida, observar quem sai em defesa da empresa dentro dos poderes públicos e pensar sobre financiamento de campanha. E por último, não dar palco a seres pequenos como esses, presos num passado que cismam em trazer de volta, sem sucesso absoluto, já que sempre encontrarão resistência em vozes e espaços, como esse.

Não passarão.

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