Por Sara Wagner York
O jornal inglês, “The Guardian” pergunta: O que é mais obsceno no Reino Unido em 2018?
E ele mesmo responde, são as crianças que vivem em albergues inadequados que afetarão suas oportunidades de vida até a idade adulta; pessoas desabrigadas congelando em nossas ruas ou propriedades que estão vazias enquanto os impostos locais distribuem dinheiro público para os proprietários destes imóveis privados?
Algumas pessoas ainda não entenderam que sobreviver é uma questão crucial na vida de muitas famílias do Brasil. O incidente desta madrugada, na maior cidade do país, discute diretamente com cada um de nós, moradores deste planeta.
A habitação é um direito humano, garantido por lei, mas ainda precisamos questionar os governos sobre o modo como nosso dinheiro segue sendo gasto. Se por um lado temos um judiciário que ganha auxílios-moradia como regra de uma lei de adequação, por outro, temos os movimentos sociais que insistem em querer ser vistos como humanos como o nosso judiciário é. Mas por que ainda vemos direitos iguais tangencialmente desproporcionais em nossas questões? Por que esse direito perpassa por classes e a nossa educação privilegia quem possui o capital. Somos ensinados a odiar o que esta abaixo. Acaso sempre penso nos meus colegas de escola, que rejeitavam sentar se ao lado da menina, cujo lanche era preparado pela mãe, e não comprado na escola, como nos faziam acreditar ser o melhor.
Precisamos nos aliar aos movimento sociais que insistem em, ocupar propriedades vazias em todas as cidades mundo e isso em apoio e solidariedade para aqueles que não têm casa. Odiamos a classe trabalhadora e tudo que dela vem, diriam os mais atualizados e avalizados pelo capitalismo.
Entretanto muitos, precisam lutar por muitas ações e tornar visível a necessidade humana frente aos caos. Mas Sara, diria alguns, eu trabalhei a vida toda e tenho uma segunda casa de aluguel, que é o dinheiro com o qual sobrevivo, seria justo perde la?
NÃO, não falamos disso! Falamos de padrões capitalistas, onde a sonegação fiscal e alianças com bancos apenas geram arrocho e opressão sobre povos que nem em um milhão de anos, conseguirá comprar a tal casa própria, sem um mínimo de apoio.
É preciso que façamos um levantamento sério e eficaz, evidenciando em nossas cidades, quantos imóveis estão vazios por meses e anos, a espera de alguém que pague o valor que o proprietário -que não vive daquele dinheiro- sonha em alugar. somente na cidade do Rio de Janeiro a FipeZap, apresentou dados que mostram o recuo nos preços dos alugueis e ofertas de até 3 meses de aluguel de graça, caso o imóvel fosse alugado em um determinado período.
Voltando ao Reino Unido, o aluguel, feito em processo privado é uma faca de dois gumes, por um lado os proprietários e as agências que se recusam a alugar para os que recebem benefícios, por parte do governo, e os proprietários, que usam ativamente os incentivos, se vem de mãos atada, ao terem que pagar contas deixadas pela falta de moradia. Os pagamentos são oferecidos aos proprietários que aceitam inquilinos apresentados pelos conselhos locais, em contratos de longo prazo. O aluguel para esses arrendamentos é pago em benefício de moradia reivindicado pelo inquilino.
Pensemos, em nossas noites de sono, no sono dos mais de 100 mil desabrigados no Brasil, como mostra o IPEA, em sua página na internet.
Apesar destes arranjos, as casas são deixadas vazias e as pessoas ficam sem casas e, no meio do inverno, os moradores de rua parecem se tornar mais visíveis. Alguns, incluindo o líder do Royal Borough of Windsor e Maidenhead, parecem achar isso obsceno. Mas a maioria de nós reconhece os danos coletivos causados a uma sociedade com barracas e sacos de dormir nas ruas, uma sociedade na qual existem 130 mil crianças sem um lar permanente.
Perguntas sérias precisam ser feitas, não apenas sobre propriedades vazias, mas também sobre o papel que a moradia desempenha em nossa identidade social e nacional.
A existência de um mar de propriedades vazias deve ser uma obscenidade que não deveríamos tolerar como sociedade, enquanto pessoas dormem em nossas ruas sem a menor garantia de vida. Se as autoridades governamentais e a sociedade civil não enfrentar essa realidade, nada mais poderá nos mover enquanto pátria com um mínimo de solidariedade.
E como eu disse anteriormente, ninguém queria sentar ao lado da menina que tinha como lanche, umas frutas ou aquele pão velho, que mãe colocava na lancheira. Esse menina cresceu, e hoje ela vai exigir retratação daqueles que se calaram diante dos absurdos cotidianos da opressão as classes invisibilizadas.
Se não por ela, que lutemos pelos direitos de nossos netos…
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