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Cidades

“Esse é o Meu Lugar”

Na década de 80, Freeman Dyson um físico inglês mas que fez residência nos Estados Unidos, escreveu um artigo onde falava da importância dos amadores para o desenvolvimento da Astronomia. No passado, dizia ele, muitos entusiastas que não eram cientistas fizeram contribuições importantes descobrindo novos corpos celestes, atuando lado a lado com cientistas profissionais.

Com o desenvolvimento tecnológico e principalmente com o barateamento dos equipamentos de observação e dos computadores essa participação dos amadores, segundo ele passou a ser mais importante ainda.

Na História creio que está acontecendo algo semelhante. Dois fatores a meu ver, são importantes para que isto esteja acontecendo. Em primeiro lugar, o acesso online a uma enorme quantidade de acervo que antes somente os profissionais poderiam consultar.

Nas décadas de 80 e 90, os salões da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro eram lotados de pesquisadores vindos os todos os cantos do Brasil, e até do exterior para consultar a rica coleção de periódicos. Era uma época em que um pesquisador para ler uma edição do Jornal do Commercio do século XIX, tinha de ficar horas à frente de uma leitora de microfilmes, com uma imagem de qualidade muito inferior à uma cópia digitalizada que hoje está online.

O segundo fator é o aumento expressivo de pessoas que passaram a ter uma formação de nível superior e de pós graduação, aumentando consideravelmente a população de interessados e pesquisadores.

Um outro fator deve ser levado em consideração. O crescimento do interesse de cidadãos comuns em recuperar e preservar a memória local, entendida aqui o conjunto de experiências e transformações de pessoas que têm em comum o pertencimento a um determinado lugar.

Hoje, em plataformas como Facebook e Instagram existem dezenas de páginas dedicadas à iniciativas de pessoas comuns interessadas em recuperar a história e a memória do lugar em viveram, ou ainda vivem. Percebo que o Rio de Janeiro está experimentando um “boom” deste tipo de fenômeno, que eu denomino muito provisoriamente como “Comunidades de Memória”.

O que são estas comunidades? A coisa funciona mais ou menos assim. Um morador de um bairro do subúrbio do Rio de janeiro, Irajá por exemplo, decide consultar o acervo digital de uma instituição como a Biblioteca Nacional. Na medida em que ele vai pesquisando aquele acervo, ele encontra uma certa quantidade de registros históricos sobre a localidade em que ele ainda mora, ou já morou.

Estes registros em geral são fotografias em jornais e revistas e reportagens sobre os bairros da cidade do Rio de Janeiro. Ocorre que este usuário não está sozinho, na verdade, a Internet permite que esta mesma pessoa encontre outras, com o mesmo tipo de interesse, que passam a se reunir em uma página do Facebook, ou uma conta do Instagram.

Na medida em que os membros destas comunidades vão acrescentando material ao acervo do grupo, aumenta também o grau de informação e a precisão das informações que são trocadas entre os membros do grupo.

O que está acontecendo aqui? Penso que é um processo de escrita coletiva da história urbana, algo sem precedentes na História enquanto disciplina. Estas “comunidades de memória”, não têm e não pretender possuir o nível de rigor e método que uma sociedade científica tradicional, com pesquisadores, periódicos e artigos submetidos à revisão de pares. No entanto, por um processo de crescimento orgânico inerente à própria lógica do mundo virtual, estes grupos realizam um trabalho de enorme importância para a História, a preservação do interesse, algo tão importante quanto a preservação do Patrimônio Histórico.

O que estas “Comunidades de memória” estão fazendo pela história do Rio de Janeiro é uma curadoria coletiva de material que registra a evolução urbana de uma cidade. Vale lembrar que praticamente nenhuma destas iniciativas conta com qualquer tipo de apoio ou patrocínio do Poder Público ou da iniciativa privada.

A Internet está mostrando de maneira cabal e insofismável que o interesse da sociedade no patrimônio histórico e cultural de uma cidade é muito mais profundo e complexo do que a simples existência de órgãos públicos destinados a este fim. É preciso esclarecer desde já, que a presença de um não exclui a atuação de outro, ou seja, o crescimento das ‘comunidades de memória” no Rio de Janeiro não veio para acabar com a função dos órgão públicos destinados à preservação do Patrimônio. Isso parece óbvio, mas no fundo não é. Não faltam pessoas que por uma interpretação equivocada embarcam na tese de que isso é uma forma sutil de “privatização do patrimônio cultural”, por isso é preciso escrever e explicar aquilo que parece óbvio.

Mais sobre isso nos próximos capítulos.

*Paulo Roberto Araújo é professor de História e suburbano convicto

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