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E se não houvesse pandemia?

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Situações complexas exigem análises complexas

Na verdade, a pandemia revela o inferno que nos submetem e escancara o Brasil que de fato existe/ Foto A Critica

Por Edson Teixeira

Tenho escutado e visto muitas análises fundamentadas na pandemia que assola a humanidade. Algumas sugerem que o mundo irá mudar. Outras insistem que haverá outra forma de ser e relacionar. Entretanto: e se não houvesse pandemia?


No Brasil, será que continuaríamos a conviver, de forma apassivada, com o culto a tortura e todas as formas de violência que a Ditadura Empresarial-Militar (1964-1985) impôs à sociedade? Será que continuaríamos a aceitar o negacionismo e sua forma estúpida de desqualificar a pesquisa científica? Será que continuaríamos a vivenciar o ataque a educação pública (Básica e Superior), laica, socialmente referenciada e autônoma, tal como expele o atual Ministro da Educação? Será que continuaríamos a aceitar as manifestações racistas, homofóbicas e misóginas do atual Presidente da República? Será que continuaríamos a tolerar o papel articulado do Congresso Nacional, do Judiciário e do Executivo – com seus aliados midiáticos e templos fundamentalistas – na rapinagem e retirada dos direitos dos trabalhadores? Será que continuaríamos a aceitar a proeminência de um juiz curitibano que queria aprovar a pena de morte, através de um pacote anticrime? São indagações que, diante da essência e aparência da realidade, indicam a permanência desse espetáculo de horrores.

Uma multidão massacrada pela negação de direitos básicos, exposta as feridas da batalha cotidiana. De repente, descobrimos que tem muita gente sem Cadastro de Pessoa Física (CPF), sobrevivendo na invisibilidade social.


De repente, o país “descobre” que existem milhões de pessoas que não podem deixar de sair de casa, justamente porque não têm moradia digna. Sequer reúnem condições dignas de existência social. Uma multidão massacrada pela negação de direitos básicos, exposta as feridas da batalha cotidiana. De repente, descobrimos que tem muita gente sem Cadastro de Pessoa Física (CPF), sobrevivendo na invisibilidade social. De repente, descobrimos que o Sistema Único de Saúde (SUS) – aquele que vivenciou a expulsão dos médicos cubanos sob a tutela do ministro Mandetta – é a salvação para o atendimento de baixa, média e alta complexidade. Os planos de saúde não passam de uma roubalheira legalizada. De repente, a Emenda Constitucional do “Teto dos Gastos” – aprovada no governo golpista de Michel Temer – revelou-se uma desonestidade dos de cima. Como também são desonestas a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista.

De repente, entrou na pauta o direito à vida. Em 2019, tivemos 41.635 pessoas assassinadas, conforme dados oficiais do país. No mesmo ano, no estado do Rio de Janeiro, as polícias assassinaram 1.810 pessoas. Uma delas com a desumana comemoração do Governador. A fórmula imposta, sem a pandemia, é de matar ou prender: em julho de 2019, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) anunciou que temos mais de 800 mil pessoas presas. Em sua maioria, o extermínio e a prisão têm cor, endereço e gênero: negros e negras, mulheres, LGBt’s, habitantes das periferias e das favelas, são os alvos preferenciais desse genocídio e encarceramento em massa.


No ano de 2019, o lucro de quatro bancos – Banco do Brasil, Santander, Itaú e Bradesco – passou da cifra de R$ 69,1 bilhões para R$ 81,5 bilhões. Uma verdadeira balbúrdia financeira. As maiores empresas brasileiras seguem a mesma lógica de acumulação, entupindo seus caixas. Ao que tudo indica, esses setores ficarão intocáveis em tempos de pandemia.
Logo, a pandemia desnuda a narrativa dominante de que estamos no caminho de “Deus acima de todos”, do “Brasil acima de tudo” e da verborragia do “Estado Mínimo”. Na verdade, a pandemia revela o inferno que nos submetem e escancara o Brasil que de fato existe: o Estado – e seus governantes – é máximo para os de cima, e é mínimo para os de baixo.
Esse discurso dominante que glorifica o cada um por si, materializado na figura do infeliz motorista da Uber, é um modelo fracassado. A ideologia da prosperidade, vendida entre cultos e empreendedorismo, é uma farsa covarde. E a pandemia revela a necessidade imponderável de rompermos com esse modelo.


De fato, algo tem que mudar e não é para pior. O pior está aí, diante de nossos olhos, escancarado. Mudanças não são paliativos individuais e isolados. Requer, sobretudo, um mergulho nas nossas contradições e a continuidade de ações coletivas organizadas, ofensivas e opostas a barbárie que nos ameaça. Que a pandemia impulsione a nossa capacidade de organização. Serão duros os enfrentamentos por vir. Cuidemos “um do outro”!

Este é um artigo de opinião de responsabilidade do seu autor e não representa necessariamente a opinião do Jornal.

Edson Teixeira – Professor de História, da UFF

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