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Diário do Fim do Mundo #18 – por Sandro Peixoto (não é o que parece)

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Búzios, 14 de abril de 2020

Estávamos no ano de 1987. O jornal Folha de São Paulo exibia na TV um comercial premiado que começava com uma foto desfocada e ao fundo, um locutor exaltando as virtudes de um líder político. Enquanto seus predicados eram elencados, e eram muitos, a foto ia tomando forma e de repente aparecia a imagem de Hitler. Finalizando o filme, o locutor avisava: cuidado com o jornal que você lê pois é possível dizer muitas mentiras falando só a verdade.

Eu senti isso na pele. Entre 1996 e 1998 fui sócio proprietário de um famoso bar que existia na Rua das Pedras. Era bar e pousada, “A Estalagem”, que pertencia ao americano Bruce Henri.

Meu sócio era argentino, Gervásio Robledo. Um portenho picareta que vivia de golpes em Buenos Aires. Agia no mercado de leilões, ou arremates – como dizem por lá. Ele mentia o tempo todo. Para quem devia contava só tragédias. De quem queria tirar dinheiro sempre tinha um novo projeto cheio de possibilidades de ganho.

Um dia, tomando um café com ele no Bar do Jockey Club na avenida Alvear, chegou um conterrâneo ao qual meu sócio devia grana.
Ele chorou pitangas, disse que havia perdido dinheiro em alguns investimentos e, o supra sumo, que Búzios era tão violenta que havíamos contratado um palestino para fazer a segurança da casa.

Os olhos do interlocutor se arreganharam. Palestino?! Logo vem a mente a imagem de um terrorista implacável que não teme a morte. Para piorar, Robledo apontou para mim e decretou: “Está aqui meu sócio que não me deixa mentir”. O credor foi embora com lágrimas nos olhos. Pensei que ele ia oferecer uma graninha para nós.


De fato tivemos um palestino na portaria do bar por uns dias. Mas era um amigo fraterno. Um sujeito de bom coração. Incapaz de qualquer maldade. Meu sócio mentiu dizendo a verdade.

Sempre procuro um assunto particular para entrar no assunto coronavírus. É que é muito difícil escrever todos os dias sobre a mesma pauta. A mentira verdadeira do momento é a tal da Cloroquina. Os imbecis conseguiram ideologizar um tratamento médico. Quem é a favor da Cloroquina é de Direita, e quem não, é comunista e quer a morte de todos. Que babaquice.

A Cloroquina é uma droga antiga e indicada para o tratamento da malária, amebíase hepática, artrite reumatoide, lúpus e doenças que provocam sensibilidade dos olhos à luz.

Como todo medicamento a Cloroquina também tem efeitos colaterais. Os mais comuns que podem ocorrer são dor de cabeça, enjoo, vômitos, diarreia, dor de barriga, coceira, irritação e manchas avermelhadas na pele. Além disso, pode também ocorrer confusão mental, convulsões, queda da pressão sanguínea e visão dupla ou borrada. Levando até mesmo a cegueira.

Sandro Peixoto é um dos principais cronistas do Brasil está disfarçado nesta foto

Não existe remédio velho para doença nova. A droga pode até ajudar de alguma maneira mas nunca será o remédio que cura. Fosse tudo isso a Cloroquina, países como Itália, França, Espanha e Estados Unidos não estariam enterrando mais de mil conterrâneos por dia.

Este é um artigo de opinião de responsabilidade do seu autor e não representa necessariamente a opinião do Jornal.

https://prensadebabel.com.br/index.php/2020/04/13/diario-do-fim-do-mundo-17-por-sandro-peixoto-anestesia/

Diário do Fim do Mundo #18 – por Sandro Peixoto (não é o que parece)

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Búzios, 14 de abril de 2020

Estávamos no ano de 1987. O jornal Folha de São Paulo exibia na TV um comercial premiado que começava com uma foto desfocada e ao fundo, um locutor exaltando as virtudes de um líder político. Enquanto seus predicados eram elencados, e eram muitos, a foto ia tomando forma e de repente aparecia a imagem de Hitler. Finalizando o filme, o locutor avisava: cuidado com o jornal que você lê pois é possível dizer muitas mentiras falando só a verdade.

Eu senti isso na pele. Entre 1996 e 1998 fui sócio proprietário de um famoso bar que existia na Rua das Pedras. Era bar e pousada, “A Estalagem”, que pertencia ao americano Bruce Henri.

Meu sócio era argentino, Gervásio Robledo. Um portenho picareta que vivia de golpes em Buenos Aires. Agia no mercado de leilões, ou arremates – como dizem por lá. Ele mentia o tempo todo. Para quem devia contava só tragédias. De quem queria tirar dinheiro sempre tinha um novo projeto cheio de possibilidades de ganho.

Um dia, tomando um café com ele no Bar do Jockey Club na avenida Alvear, chegou um conterrâneo ao qual meu sócio devia grana.
Ele chorou pitangas, disse que havia perdido dinheiro em alguns investimentos e, o supra sumo, que Búzios era tão violenta que havíamos contratado um palestino para fazer a segurança da casa.

Os olhos do interlocutor se arreganharam. Palestino?! Logo vem a mente a imagem de um terrorista implacável que não teme a morte. Para piorar, Robledo apontou para mim e decretou: “Está aqui meu sócio que não me deixa mentir”. O credor foi embora com lágrimas nos olhos. Pensei que ele ia oferecer uma graninha para nós.


De fato tivemos um palestino na portaria do bar por uns dias. Mas era um amigo fraterno. Um sujeito de bom coração. Incapaz de qualquer maldade. Meu sócio mentiu dizendo a verdade.

Sempre procuro um assunto particular para entrar no assunto coronavírus. É que é muito difícil escrever todos os dias sobre a mesma pauta. A mentira verdadeira do momento é a tal da Cloroquina. Os imbecis conseguiram ideologizar um tratamento médico. Quem é a favor da Cloroquina é de Direita, e quem não, é comunista e quer a morte de todos. Que babaquice.

A Cloroquina é uma droga antiga e indicada para o tratamento da malária, amebíase hepática, artrite reumatoide, lúpus e doenças que provocam sensibilidade dos olhos à luz.

Como todo medicamento a Cloroquina também tem efeitos colaterais. Os mais comuns que podem ocorrer são dor de cabeça, enjoo, vômitos, diarreia, dor de barriga, coceira, irritação e manchas avermelhadas na pele. Além disso, pode também ocorrer confusão mental, convulsões, queda da pressão sanguínea e visão dupla ou borrada. Levando até mesmo a cegueira.

Sandro Peixoto é um dos principais cronistas do Brasil está disfarçado nesta foto

Não existe remédio velho para doença nova. A droga pode até ajudar de alguma maneira mas nunca será o remédio que cura. Fosse tudo isso a Cloroquina, países como Itália, França, Espanha e Estados Unidos não estariam enterrando mais de mil conterrâneos por dia.

Este é um artigo de opinião de responsabilidade do seu autor e não representa necessariamente a opinião do Jornal.

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