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Cidades

Os atletas protestam… nos EUA e por aqui?

Muitos comentários sobre o boicote dos atletas da NBA aos play offs, em função do assassinato de Jacob Blake, pela polícia de Wisconsin, morto a tiros, pelas costas, na frente de sua família, sem nenhum motivo aparente, além da presunção de culpabilidade, próprio dos corpos pretos.

Comentários de exaltação, também tentativas de comparação com a realidade dos atletas brasileiros, principalmente os atletas de futebol, de primeira e segunda divisão. Comparações com relação a dividendos, comparação com relação a atitude, ou adjetivações de alienados, nos casos daqui, em comparação aos de lá.

Sim, foi um dia histórico, não tenhamos dúvidas, um dia de enfrentamento corporativo, um dia em que ser preto ou preta, dentro do contexto estadunidense, foi mais importante do que qualquer cifrão. Dia de serem sujeitos da história, dia para refutar de forma categórica a tese de que política e esporte não se misturam. Agora, por que acontece lá e não acontece aqui?

Chamar os atletas de futebol daqui de alienados é um caminho possível, porém inconcluso. Chamar Lebron James de conscientes é um caminho possível, também inconcluso, por si só. Educação, organização e consciência política podem ajudar a responder, ou pelo menos, apontar uma direção, talvez. Vamos lá.

Nos EUA, o histórico de acesso a educação as pessoas pretas é antigo e faz parte do cerne de organização política e social deles. A ideia comum pós-abolição, por lá, além se ter organizações políticas fortes, era o acesso à educação como forma de emancipação. De Marcus Garvey, Frederick Douglas, Sorjounie Truth, Angela Davis e Cornel West. Universidades pretas e organizações e instituições políticas com pontuações bem singulares com a relação a educação: leia os 10 pontos dos Partidos dos Panteras Negras.

Pra quem assistiu ao filme “Selma”, nota-se o senso de estratégia de mobilização a partir de causas comuns, muito apurado. Não era uma coisa simplesmente instintiva, existia coordenação, metas e ações coordenadas. Bom, dá pra presumir que há uma cultura de sensibilidades e condutas estabelecidas, desde muito tempo.

Há uma outra questão para não ser ignorada. Os atletas da NBA, obrigatoriamente, passam por todo ciclo escolar, até chegar a universidade. Entendam, é obrigação. A educação por si só, não politiza, nem faz se ter uma atitude de contestação, diante da injustiça ou atrocidade, mas aliado a uma cultura política, ajuda, como ajuda.

O racismo nos EUA fez as pretas e os pretos se organizarem, tanto institucionalmente quanto educacionalmente, quiçá politicamente. Os 12% da população estadunidense, com todos os revezes, que o próprio racismo opera, criaram uma cultura de luta.

E por aqui, como funcionaram nossas organizações políticas, educacionais, acessos e a força do racismo à brasileira (com todas limitações a esse termo)? Poderíamos dizer do acesso tardio aos pretos e pretas de forma mais significativa, nos bancos escolares, só em 1950. Também poderíamos dizer nenhuma política de inclusão dessas populações aos bens de produção do Brasil, além de serem mão de obra.

Organizações políticas e contestação sempre houve, dos quilombos ao MNU. Quilombos combatidos a ferro e fogo pelo Estado Brasileiro, até a constituição de 1988 e os Movimentos Negros, importantes para denuncia (fim do mito da democracia racial), mas nunca populares, a ponto se criar uma cultura sensível.

E os atletas de futebol, maioria pretos, como os atletas da NBA, onde eles ficam? Pobres como os atletas estadunidenses, fato. Só que diferente de lá, nunca houve uma obrigatoriedade de passarem, por, pelo menos, o ensino básico.

Já afirmei que isso, por si só, não é suficiente para mobilização, mas a nossa cultura racista não nos faz estranhar a desigualdade, pelo contrário, faz a gente naturalizar. Há registros de indignações diversas, mas nos falta vocabulário, literatura de enfrentamento e o racismo, como baliza institucional, tem muito a ver com isso.

A faceta mais cruel do racismo à brasileira é a alienação. Alienação de saber de onde vem o tiro, mas não saber como pará-lo. E os tiros são tantos, os naturalizo e sigo a vida, tentando vencê-la. O futebol é uma dessas formas de vencer na vida, assim como se está se criando uma cultura sensível de acessar as universidades como forma de vencer na vida.

É insuficiente e até frustrante para quem almeja uma convulsão social gigantesca para se contestar nossas mortes, expropriações e ataques violentos. Sim, é, no entanto, quando a gente chama os futebolistas brasileiros de alienados, apenas para cumprir uma meta semanal de mobilização, sem entender o contexto histórico que nos cerca, somos tão alienados, quanto.

Alienado qualquer preto residente em um país de origem escravocrata o é, só ler o Fanon. Agora, em vez de medirmos o grau de alienação de um de outro, poderíamos ao menos perceber os nossos acessos e nossas faltas para criarmos uma cultura de reflexão, pensamento e ação. É um caminho, né, sem empáfia e em busca de futuro viável…

*Fabio Emecê é Mc, Poeta e Professor.

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